Energia elétrica no Brasil

Colaboração didática da profa Maria Salete N. Schneider do Colégio Módulo, Salvador – BA


Um breve resumo…

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) foi a primeira do Brasil, inaugurada no governo Vargas, em 1945, durante o Estado Novo. Com o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, o vice-presidente Café Filho assumiu a presidência da República (1954-1955) e, em janeiro de 1955, inaugurou a primeira grande usina construída pelo governo brasileiro, –  a Hidrelétrica de Paulo Afonso (administrada pela Chesf) – que serviu para substituir as termoelétricas que forneciam energia a região Nordeste.

Veja que o funcionamento de uma usina hidrelétrica depende da profundidade do reservatório para uma maior geração de energia. Um menor represamento da água também significa menor impacto ambiental. Fonte da figura: SENE, Eustáquio; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2010, p. 497.

O ufanismo do “Brasil-Potência” associado às crises petrolíferas da década de 1970, levou os governos militares a construir várias usinas hidrelétricas no território brasileiro ao longo das décadas de 1970 e 1980 – Itaipu (12.600MW), Tucuruí (4.200MW), Ilha Solteira (3.230MW), Paulo Afonso (3.885MW), Itumbiara (2.280MW) e muitas outras menores.

Até a década de 1980, as usinas hidrelétricas brasileiras forneciam mais de 90% da energia elétrica do país, mas devido à construção de termelétricas movidas a gás natural e biomassa, em 2008 essa participação reduziu para pouco mais de 70% (conforme o Guia do Estudante, 2011, p. 105, o Brasil, em 2010, contava com 2.240 usinas para produção de energia elétrica e desse total, 852 eram hidrelétricas de diversos tamanhos e 1.341 térmicas movidas a gás natural, biomassa e óleo diesel – ainda duas usinas nucleares e 45 eólicas). Veja amostragem no gráfico abaixo.

Fonte: Guia do Estudante. Atualidades Vestibular, 2011, p. 105.

Hoje, a Chesf (subsidiária da Eletrobrás desde 1960) é a maior geradora de energia elétrica do Brasil (mais de 10 milhões de MW gerados), responsável por dez hidrelétricas e uma termelétrica. “Criada em 1961 para atuar como holding do setor elétrico, a Eletrobrás e suas quatro empresas regionais (Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte) foram incluídas no Programa Nacional de Desestatização, regulado pela Lei 9.491/97. Alguns dos produtos das parcerias estabelecidas com o setor privado, em consonância com o programa, foram as usinas hidrelétricas Serra da Mesa (1.293 MW), no rio Tocantins, que já está em operação, e Itá (1.450 MW), no rio Uruguai, em fase de construção. O órgão regulador do setor elétrico no Brasil é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), autarquia vinculada ao Ministério das Minas e Energia criada pela Lei 9.427/96. Entre suas incumbências, incluem-se a regularização e fiscalização da produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, o controle das tarifas cobradas aos consumidores e a execução de diretrizes governamentais para a exploração da energia elétrica e o aproveitamento do potencial hidráulico.” (http://www.miniweb.com.br)

A maior usina administrada pela Chesf é a hidrelétrica de Xingó, – entre os Estados de Alagoas e Sergipe – inaugurada em 1994, com capacidade para 3.162MW (veja fotos que seguem). Considerada uma das usinas hidrelétricas mais modernas do país ao obedecer, inclusive, normas técnicas de minimização de impactos ambientais, além de ser a responsável pela geração de 25% da energia consumida no Nordeste.

Foto de satélite mostrando a barragem de Xingó e a área alagada no curso do rio são Francisco. Na margem esquerda do rio o território pertence ao Estado de Alagoas e na direita ao Estado de Sergipe. Fonte: Google Earth capturada pelo prof. Marcos Brandão.

 Comportas da hidrelétrica de Xingó. Fonte: http://wille.wordpress.com/2008/03/10/fotos-hidroeletrica-e-canions-de-xingo/

Paredão de 140 metros que contém a água do rio São Francisco para geração de energia em Xingó. Os seis tubos brancos são unidades geradoras (cada uma com capacidade de 527.000kW). Fonte da foto: Google Earth.

A presidente Dilma Rousseff antes de ser ministra da Casa Civil ocupou o ministério de Minas e Energia no governo Lula e uma das missões da presidente eleita desde os mandatos anteriores era evitar o racionamento de energia como o acontecido em 2001*, mas, mesmo assim, em 2009 o país sofreu um blecaute que deixou 80 milhões de pessoas em 18 Estados às escuras. O apagão acontecido no início de 2011 afetou o Nordeste e as indústrias do polo petroquímico de Camaçari/BA – responsáveis por 30% do PIB da Bahia – levaram 5 dias para reativar os equipamentos.

 

*A origem do racionamento de 2001 foi uma crise instaurada na década de 1990 com a desestatização do setor pautado no modelo neoliberal de economia (privatizou sem exigir dos compradores investimentos imediatos). O governo reduziu os investimentos no setor de energia elétrica, mas o consumo continuou crescendo 4,5% ao ano. No primeiro semestre de 2001, as chuvas não foram capazes de manter os níveis das represas e o governo (que pôs a culpa na chuva!) estabeleceu o racionamento. As usinas termelétricas aumentaram bastante em quantidade, pois foi criado um plano de construção de usinas térmicas.

O grande problema é que desde 2009, a população mundial urbana superou a rural no mundo e milhões de pessoas do meio urbano aumentaram seu padrão de consumo requerendo uma maior oferta de energia, já que desenvolvimento econômico é sinônimo de consumo de energia – os dez países que mais geram energia elétrica são: EUA, China, Japão, Rússia, Canadá, Índia, Alemanha, França, Grã-Bretanha e Brasil. Na maioria desses países a matriz é predominantemente térmica, com exceção a França (nuclear), Canadá e Brasil (hidrelétrica – O Brasil aproveita 30% do seu potencial hidrelétrico. É o terceiro país do mundo em geração perdendo para o Canadá e para a China).

 No Brasil, o crescimento do padrão urbano citado anteriormente não foi diferente; o desafio do governo é disponibilizar energia elétrica para toda a população com tarifas razoáveis, além de assegurar que não acontecerá mais os chamados “apagões”.

A previsão é que na década de 2010 haja um aumento de 50% na oferta de energia elétrica, com a entrega de novas subestações, usinas hidrelétricas e linhas de interligação entre as diversas regiões do país (veja mapa que segue). Existem três grandes projetos previstos para 2015: as usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira/RO e Belo Monte, no rio Xingu/PA, uma obra que causou (e ainda causa) bastante polêmica por causa da obtenção de licenças ambientais (veja aqui post sobre Belo Monte).

Mapa da rede elétrica brasileira. Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: EDUSP, 2008, p. 228. Clique na imagem para uma melhor visualização em outra janela/aba.

Segundo Olic (2011, p. 4), usinas elétricas baseadas nas fontes eólica, solar (veja as duas figuras que seguem) ou biomassa possuem reduzida densidade no fluxo energético, sendo utilizadas para complementar outras fontes da matriz elétrica. Apesar de suas óbvias vantagens ambientais, elas não conseguem atender às grandes demandas energéticas das áreas urbanas.

A matriz eólica no Brasil, em 2011, respondia por cerca de 1% da geração de energia e o Plano Decenal de Expansão de Energia estima que, em 2020, esse percentual suba para 7%. O custo de 1MW de energia eólica é de R$ 147,00 enquanto que da energia hidráulica é R$ 95,00 (fonte: Agência Brasil).

Potencial eólico do Brasil. Fonte: SENE, Eustáquio; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2010, p. 503.

Fonte: SENE, Eustáquio; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2010, p. 501.

A Transposição do Rio São Francisco

Iniciada as obras em 2007, o governo afirma que a transposição em dois eixos (Norte e Leste) beneficiará 12 milhões de pessoas que moram na região intitulada Polígono das Secas. Importante abordar esse assunto nesse post, pois no rio São Francisco estão situadas as hidrelétricas de Três Marias (MG), Sobradinho (Juazeiro, BA), Itaparica (Glória, BA), Paulo Afonso I (Paulo Afonso, BA) , Paulo Afonso II, III e IV (Delmiro Gouveia, AL), Moxotó (Delmiro Gouveia, AL) e Xingó (entre os municípios de Canindé de São Francisco, SE e Piranhas, AL).

Mapa da Transposição. Fonte: Guia do Estudante. Geografia: vestibular. Ed. Abril, 2012, p. 53.

A água captada em Cabrobó (PE), acima da ilha Assunção, e no reservatório de Itaparica, representando cerca de 3% do volume do rio (dos 1.850m³/s de água do rio São Francisco, 63,5 m³/s serão retirados), seria então bombeada por 591 quilômetros de canais, dois aquedutos (20 quilômetros) e 12 túneis (22 quilômetros), e jogada nos rios da região até atingir uma rede de 26 açudes (SAKAMOTO, Revista Problemas Brasileiros, ed. 27, 2001).

A represa de Sobradinho situada ao norte da Bahia foi construída para regular a vazão de água, principalmente durante a estação seca, assim como a geração de energia pelas barragens que estão situadas no curso do Rio São Francisco e são operadas pela CHESF como: Moxotó, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó (veja na figura que segue as usinas de Sobradinho e Xingó que marcam os extremos).

Parte do Nordeste com destaque para as barragens de Sobradinho e Xingó no curso do rio São Francisco e que no norte da Bahia delimita a fronteira com outros estados (clique na imagem para uma melhor visualização em outra aba/janela). Fonte: adaptado do Google Earth pelo prof. Marcos Brandão.

O objetivo maior é integrar as bacias hidrográficas intermitentes da região. Os críticos do projeto afirmam que a abertura de poços artesianos e cisternas são alternativas mais baratas que os R$ 4,5 bilhões que o governo gastará ao final da obra, além do aumento no impacto ambiental do rio São Francisco e ainda a constatação por especialista que alguns locais beneficiados pela transposição não sofrem de escassez hídrica.

Alguns dados retirados de: OLIC, Nelson Bacic. As “fábricas” de eletricidade. Mundo: geografia e política internacional. Ano 19 nº3, maio/2011, p. 4.

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