Por Marcos Bau em fev. 2015
O Estado Islâmico está crescendo sua atuação e – além de terras na Síria e no Iraque – hoje ocupa, no Norte da África, parte de cidades do Nordeste da Líbia que fazem fronteira com o Egito. No último domingo, o EI divulgou um vídeo decapitando 21 egípcios cristãos. O Egito bombardeou posições do grupo terrorista na Líbia e o presidente egípcio pediu ao CS da ONU a formação de uma coalizão internacional para combater os radicais islâmicos. A Itália e a França apoiam a coalizão proposta pelo presidente egípcio devido à proximidade geográfica e o receio do terror chegar aos seus espaços internos (“A vida inteira é uma contradição digerível” Hebbel).
EI divulga assassinato de cristãos egípcios.
A Líbia foi um dos países protagonistas da Primavera Árabe até o momento que as forças da OTAN, em 2011, depuseram o governo ditatorial de Muammar Kadafi que já durava 42 anos. O que era ruim ficou pior, pois a guerra civil piorou e grupos rebeldes passaram a disputar o posto de comando no país. As eleições aconteceram em 2012 e cerca de 60% da população participou de um pleito com mais de 100 partidos formados poucos meses antes do pleito. A frágil democracia da Líbia foi eleita nas urnas, mas quem realmente comanda o país são as milícias que tomaram conta do arsenal de Kadafi e de parte dos poços petrolíferos do país (o que está ruim sempre pode ficar pior – Lei de Murphy).
O Egito, por sua vez, derrubou o ditador Mubarak nos desdobramentos da Primavera Árabe e elegeu o líder da Liga Muçulmana, Mursi, que também se mostrou um ditador querendo impor um Estado egípcio muçulmano; por isso foi deposto pelos militares, os mesmos que comandam o país hoje, depois de uma eleição com participação de menos da metade dos eleitores. Resumindo, o Egito está sob um regime militar que não pode ser considerado democracia plena nos moldes ocidentais, mesmo que as eleições tenham acontecido (“Todo Estado é uma ditadura” Gramsci).
Em meio a essa confusão geopolítica, as democracias francesa e italiana apoiaram a deposição da ditadura de Kadafi, que era muito ruim, mas agora a Líbia está até pior (?) sob o comando de milícias rebeldes em pedaços do seu território (principalmente no lado Leste). Mesmo que pareça contraditório, Roma e Paris hoje apoiam o presidente egípcio, pois essa é a saída mais pragmática contra o avanço do Estado Islâmico (farinha pouca, meu pirão primeiro! – Ditado popular muito difundido no NE do Brasil).
Quanto ao Iraque e à Síria, onde o EI controla mais territórios, os EUA conversam sobre cooperação com o ditador sírio e, mesmo que silenciosamente ou sem querer admitir por causa da soma de mais contradição ao processo, devem agradecer ao exército do ditador Assad, pois se os rebeldes já tivessem derrubado tal governo, a Síria seria uma nova Líbia, só que pior, pois em território Sírio o EI é muito mais forte e com a queda do seu poder central, provavelmente já teria tomado todo o país. Os levantes da Síria também são resquícios da Primavera Árabe e o governo sírio recebe armas da aliada Rússia, que é acusada de fornecer armas também para o leste ucraniano, deixando as maiores potências da Europa e os EUA muito chateados com Putin (“O mundo é uma caricatura perpétua de si mesmo; e a cada momento ele é a derrisão e a contradição do que pretende ser” Santayana).
No Iraque, o governo foi eleito em set. 2014 e é aliado dos EUA para combater o Estado Islâmico. Além do combate, o governo iraquiano tenta fazer uma reforma política para garantir os direitos dos sunitas e assim reduzir os vários sunitas iraquianos que se aliaram ao EI. Os EUA ainda possuem cerca de 3 mil soldados no Iraque, para proteger a embaixada americana e o aeroporto de Bagdá. Apesar de tropas estarem bem perto da frente de batalha, Obama afirmou que seus soldados não lutarão em solo contra o EI (“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” Lincoln).
“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente” Shakespeare.
*Entendemos que no contexto do contrato social de Hobbes e Locke, que evoluiu formalmente para o conceito de Estado Moderno estabelecido no Congresso de Viena, é equivocado o uso do termo Estado Islâmico para o califado que os extremistas islâmicos tentam formar. Mas no contexto do escrito, determinados termos são perpetuados pela mídia e admitimos que facilitam o entendimento e encurtam a prolixidade, por isso, na nossa análise, o uso do termo Estado depende do direcionamento teórico que se queira seguir. Em tempo, isso dá uma boa discussão sobre Estado enquanto território, povo enquanto etnia e essa associação com as leis aplicadas sobre o substrato espacial (daí a análise se esses radicais islâmicos compõem um Estado, mesmo o mundo, principalmente em seu lado ocidental, não o reconhecendo).