Um pouco do chavismo e os protestos na Venezuela, 2014

Por Marcos Bau

Para entender o governo de Nicolás Maduro, o mais feroz dos chavistas, necessário se faz uma breve volta para relembrar alguns aspectos do governo de Hugo Chávez.

Nos 14 anos do governo de Chávez houve uma significativa redução da pobreza, de 49,4% da população para 29,5%, mas, para isso, também houve um aumento significativo da dívida pública em relação ao PIB – de 37,1% para 51,3%. Desde 1999, o desemprego baixou uma média de 5 pontos percentuais – hoje está em torno de 10% da PEA (nosso desemprego também é cerca de 10%, segundo o Dieese). A inflação venezuelana antes de Hugo Chávez assumir era de quase 60% ao ano e no período chavista, entre 1999 e 2012, a média ficou em 21% ao ano, mesmo assim, muito mais alta que a média da América Latina de 7,1%/ano – a inflação venezuelana, em 2013, chegou aos 56%/ano. Durante o governo chavista, o PIB cresceu cerca de 1,6% ao ano, um crescimento baixo, similar ao do governo de FHC aqui no Brasil e bem abaixo da América Latina, que cresceu na mesma época 3,5% (os dados sobre a Venezuela são do FMI e da CEPAL).

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Além do crescimento citado e da redução da pobreza existem outros poréns que aconteceram durante o chavismo como: o aumento da criminalidade pondo a Venezuela, atualmente, como terceiro maior país do mundo no índice de assassinatos; em 1999, antidemocraticamente, Chávez estendeu seu mandato para seis anos e impôs uma lei que o permitia governar por decreto; teceu controle Sobre as tvs que faziam críticas ao seu regime; e foi acusado de não investir em novas usinas e por o país sob a fragilidade energética permeada por apagões.

O que sustenta a Venezuela á o petróleo e antes de Chávez, as companhias petrolíferas depositavam 30% dos ganhos ao tesouro e Hugo Chávez fez o número subir para 70%. Após uma greve geral da PDVSA tentando derrubar Chávez por causa dessa redução drástica no lucro das petrolíferas, em 2003, o governo demitiu 40% dos funcionários da petrolífera PDVSA e empregou aliados do governo. O capital petrolífero desses 70% foi investido em programas sociais. Porém, o aumento do consumo interno gerou a média citada anteriormente da inflação em 21% ao ano.

Para o povo, o que mais se destacou no governo chavista foi um programa social chamado ‘misiones bolivarianas’, alicerçado em três pilares: educação, alimentação e saneamento básico e promover a agricultura e ajuda aos indígenas. Esse programa reduziu quase que pela metade a pobreza na Venezuela.

O que mais se questionou no regime chavista eram os resquícios de autoritarismo que se assemelhavam a uma ditadura, pois em seu mandato houve ameaças e prisões de opositores do regime.

Nicolás Maduro assumiu o governo em 2013, tenta ser Chávez e quer repetir seu bolivarianismo, mas não possui o mínimo do carisma que tinha seu tutor. Venceu as eleições em 2013, com menos de 2% de diferença do opositor Capriles e não entende que, com isso, metade da população é de oposição ao seu governo. Com o aumento da inflação, a crise se agravou e a falta de produtos básicos virou rotina, pois o governo tabelou os preços no ano passado, como no nosso fatídico plano cruzado da década de 1980. Os empresários retiram as mercadorias das prateleiras como sinal de pressão para conseguir reajustar os preços e também culpa Nicolás Maduro pela dificuldade de importação, porque o governo controla o volume de dólares – mas, devido ao imenso fluxo globalizado, o controle é falho e o dólar sobe no mercado negro puxando a inflação para cima (é o câmbio negro que regula os preços do comércio interno). Ao mesmo tempo, Maduro diz que a inflação subiu por causa da “guerra econômica” dos empresários. Os produtos que são subsidiados pelo governo atende aos traficantes dos países vizinhos, que enchem caminhões de alimentos para revender mais caro em seus espaços aumentando a escassez venezuelana.

Para o sociólogo Gregory Wilpert, “a vontade política de se libertar das leis do capitalismo provocou uma fuga maciça de capitais, criando uma instabilidade diante da qual os governantes se encontraram desarmados. O controle dos preços e das taxas de câmbio permite, claro, em certo limite, remediar essa contraofensiva, mas cria outros grandes problemas, como a escassez de produtos” (Le Monde Diplomatique Brasil, out. 2013).

Isso tudo porque a Venezuela possui a maior jazida de petróleo do mundo, depende do preço do barril no mercado internacional e importa 70% do que consome pagando em petrodólares, mas a crise econômica não consegue evitar a fuga de dólares do seu espaço interno. 

protestos venezuela

Por melhorias sociais, a população jovem foi às ruas, em fevereiro de 2014, e em sinal de protesto. O mesmo questionamento sobre Chávez serve para Nicolás Maduro, ou seja, a forma autoritária como o governo lida com os opositores. Prendeu um dos maiores líderes das manifestações em 18 de fevereiro, o opositor Leopoldo López. Essa semana prendeu mais dois prefeitos opositores e deputados governistas retiraram a imunidade parlamentar de Maria Corina Machado, sob o pretexto dela incitar a violência nas manifestações. Diante dos protestos, as mortes contam 30, e os feridos em centenas até o dia 21 de março de 2014. Em todas as prisões a opositores alega-se arbitrariedade de um governo com elementos concretos de fortes ditaduras, que, no plano político, é o maior dos retrocessos.

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