Mao Zedong ainda era vivo e foi quem implantou a política do filho único na China, na década de 1970, começada por uma das províncias. Virou norma nacional em 1979, quando o líder comunista Deng Xiaoping sentiu que o receio do crescimento populacional desordenado atrapalharia suas ambições de crescimento econômico, já que a China estava chegando a 1 bilhão de pessoas.
Importante ressaltar que mesmo antes da implantação da política do filho único, a China vinha reduzindo a taxa de fecundidade da população de 5,8 filhos por mulher em 1970 para 2,7 em 1978, conforme o especialista especialista em população Cai Yong, da Universidade da Carolina do Norte (EUA). “O declínio da natalidade é um fenômeno global: a maioria dos países em desenvolvimento vivencia redução de natalidade sem qualquer medida draconiana do governo”, afirmou Yong em reportagem à BBC Brasil.
Propaganda chinesa da política do filho único. A China chegou a 1 bilhão de habitantes em 1982.
A forma de contenção da população achada por Xiaoping foi das mais violentas possíveis contra a mulher. Além da distribuição de métodos contraceptivos e incentivos profissionais à população, as mulheres que ficassem grávidas eram literalmente caçadas pela polícia do partido e levadas ao hospital para abortos forçados, caso fosse confirmado se o bebê fosse do sexo feminino ou se a gestante já tivesse o primeiro filho (nesse último caso a mulher era esterilizada). Muitas mulheres – por medo de perder os benefícios do governo e pagar pesada multa pelo segundo filho – praticavam abortos espontaneamente, no caso do segundo filho ou no caso da descoberta fosse o primeiro filho do sexo feminino.
A mando da cúpula do Partido Comunista, muitos dos médicos também tinham um controle sobre o ciclo menstrual das mulheres, utilizando exames periódicos nas casas das famílias, com equipamentos portáteis, para que ninguém conseguisse burlar a política do filho único.
Através dessa política demográfica neomalthusiana levada ao extremo, as famílias chinesas adequaram-se forçosamente a ter apenas um filho. Como essa premissa mexeu culturalmente com a população, mesmo quando houve relaxamento dessa política, os chineses continuaram optando por ter apenas um filho. As famílias que perderam seu filho único por falecimento somam cerca de 1 milhão e 76 mil casais são somados por ano a essa conta.
Fonte do infográfico: Folha.
Na década de 1980 houve o primeiro relaxamento da política do filho único em províncias agrícolas do país, pois caso o primeiro filho fosse mulher era dada a chance de ter o segundo. A rigidez era maior nas áreas urbanas já que o contingente populacional e o crescimento vegetativo eram maiores. A política do filho único não vale para os casais ricos ou abastados de capital e isso gera revolta pela discriminação social.
Outro relaxamento aconteceu no início desse século, quando os dirigentes já percebiam que na medida e intensidade em que o contingente de idosos crescia a quantidade de jovens da população economicamente ativa seria reduzida e dificultaria a conta do pagamento da previdência social chinesa.
Pirâmide etária da China estimada para 2020.
A política do filho único chegou ao seu fim em 2015 devido a essa bomba demográfica que se tornou a China. Essa política demográfica foi imposta pelo puro pensamento nas ambições de crescimento econômico em um momento que a China se abria para o capitalismo no modelo que ficou apelidado de socialismo de mercado. No ano de 2015 foi divulgado uma desaceleração na economia chinesa, com crescimento estimado em 6,9% e essa foi uma das premissas importantes para o fim da política do filho único.
Agora o pensamento do governo comunista chinês centra-se em como fazer a população crescer pelo aumento da natalidade, já que, pela força ditatorial, as famílias foram tão acostumadas a ter um filho que passarão um bom tempo desconfiadas com o fim de uma política que durou 35 anos ou toda uma geração.
Importante ressaltar que agora a política é sobre a permissão de 2 filhos, pois 3 gera perseguição. A ditadura chinesa continua fazendo jus ao desrespeito dos direitos humanos.