Com muitos milênios de existência, a China se considera, até o século XIX, “O Império do Meio” que, embora produzindo cerca de 30% do PNB mundial (mas num mundo não globalizado), acredita não precisar se relacionar com as outras partes do mundo. Mas os europeus tiram proveito dos confrontos internos que, a partir da segunda metade do século XIX, levam ao enfraquecimento da China e põem-na sob a tutela europeia, impondo um esfacelamento parcial, alguns “tratados desiguais” e certo número de concessões – zonas que escapam à soberania chinesa. Os chineses sentem uma profunda humilhação, que a brutal agressão japonesa de 1937, prelúdio da Segunda Guerra Mundial, só faz exacerbar.
É apoiando-se no campesinato miserável, mas também apostando fortemente no veio nacionalista, que o comunista Mao Tsé Tung consegue tomar o poder em 1949, ao fim de vários anos de combate. Os dirigentes nacionalistas de direita então se refugiam em Taiwan, onde fundam um regime protegido pelos norte-americanos.
Assim, é bem mais em virtude desse nacionalismo do que devido a motivos ideológicos que Mao rompe com a União Soviética em 1961: Pequim não aceita mais ficar sob o domínio – mesmo indireto – de Moscou, líder do bloco comunista. Depois da morte de Mao, a partir de 1978, sob Deng Xiaoping, a China se lança numa “economia socialista de mercado”, conjugando controle político do Partido Comunista, capitalismo selvagem e abertura econômica para o mundo. Hoje, depois de recuperar Hong Kong e Macau, o objetivo principal da China é reunificar-se com Taiwan, ou, pelo menos, impedir o reconhecimento de sua independência.
Gigante demográfico (1,3 bilhão de habitantes) e territorial, a China é reforçada por um crescimento ininterrupto há quase trinta anos. Ela é hoje um gigante econômico, protótipo da potência “emergente”, e pode ultrapassar os Estados Unidos ao longo deste século. Está muito integrada na globalização, da qual tira imenso proveito por suas comparativas vantagens monetárias, sociais e outras, embora sem respeitar completamente suas regras.
Clique na imagem para uma melhor visualização.
As feridas do passado, notadamente os crimes cometidos pelos japoneses entre 1937 e 1945, não cicatrizaram, o que explica por que a relação entre Pequim e Tóquio se mantém muito difícil. A rivalidade com os Estados Unidos, de natureza econômica, pode se tornar estratégica. Contrariamente à União Soviética do tempo da guerra fria, a China não contesta o modelo norte-americano de economia de mercado, mas quer simplesmente tomar a ponta na competição. Alguns setores norte-americanos veem na China não um parceiro, mas um rival estratégico, talvez uma ameaça a Taiwan, ao Japão, às reservas energéticas e aos próprios Estados Unidos. Quanto a suas relações com a Rússia, a China aborda-as sem complexos, acreditando tê-la ultrapassado em todos os domínios. Interessa-se hoje pela África – onde não tem passado colonial, e, portanto, não tem passivo – e pela América Latina, para garantir a energia e as matérias-primas que lhe faltam.
Clique na imagem para uma melhor visualização.
Preocupada em evitar a inquietação que seu novo poder suscita, afirma que sua emergência será pacífica. Colocam-se quatro questões principais sobre o futuro da China: ela manterá seu avanço, apesar do agravamento das questões sociais e ecológicas, e tornar-se-á um dia a primeira potência mundial? A modernização econômica gerará uma modificação na natureza do atual regime em direção a uma orientação democrática? Contentar-se-á com um lugar de primeiro plano ou buscará exercer uma influência política mundial? Por fim, qual será a reação dos vizinhos e das outras potências diante da emergência da China?
Fonte do texto e das imagens: BONIFACE, P. e HUBERT, V. Atlas do Mundo Global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009, p. 96-99.
Boa noite,
Gostaria de saber, se o senhor, dá aulas abertas ao publico, faz palestras ou algo desse tipo? Desejaria muito participar de uma palestra sua…
Obrigado pelo interesse André! Não ministro aulas abertas por falta de tempo e estrutura para tal, porque seria muito interessante caso acontecesse.