Por Marcos Bau
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O clima atua de acordo com seus elementos e fatores. Elementos: temperatura, umidade, pressão e vento; fatores: latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, correntes marinhas e massas de ar.
No caso do Brasil, diversos fatores atuam alterando os elementos do clima, mas nossos tipos climáticos são, primordialmente, determinados pelo movimento e cruzamento das massas de ar que atuam no interior de nosso território. O que queremos ressaltar é que todos os fatores citados atuam na climatologia brasileira, mas o fator determinante é a circulação das massas de ar, pois é do encontro dessas massas que vai se formando a maior influência da ação dos elementos do clima na climatologia brasileira.
O vídeo abaixo é sobre a previsão do tempo mostrado no Jornal Nacional da rede Globo de Televisão em 22/08/2008. A apresentadora ressalta as massas levando chuva para o Sul do país (a mPa ainda atuante e úmida) e ar seco para o Centro-Oeste (a mTc predominando). Isso para se começar a ter a percepção teórica de que o tempo muda com facilidade, mas o clima, como é a sucessão habitual dos estados de tempo, para se observar uma mudança climática é necessário a análise da sua dinâmica (elementos e fatores) durante três décadas. Explicaremos adiante com mais detalhes.
Conforme o fator climático latitude, por possuir 92% do território na zona intertropical do planeta, grande extensão no sentido norte-sul e litoral com forte influência das massas de ar oceânicas, o Brasil apresenta predominância de climas quentes e úmidos. Em apenas 8% do território, ao sul do Trópico de Capricórnio, ocorre o clima subtropical, que apresenta maior variação térmica e certo delineamento das estações do ano. Os climas temperados (aqui no Brasil chamamos de subtropical), são caracterizados por terem as estações do ano bem definidas.
Acerca da altitude, como o Brasil possui altitudes bem modestas (dobramentos antigos e 99,46% do país com altitudes menores que 1.200 metros), a variação de acordo com esse fator climático acontece, mas não se mostra como muito significativa. Um exemplo é que nessa latitude intertropical que o país se situa, a média de perda de 1º C acontece a cada 300 m de altitude, portanto, nas áreas onde predominam planaltos (vide mapa que segue e observe o Centro-Oeste, no famoso planalto central como exemplo), a variação de temperatura por causa da altitude é de cerca de 3º C. Enfim, ela existe mas não é determinante na alteração da temperatura como outros fatores. Nas serras subtropicais do Brasil, como a gaúcha e a catarinense, a queda de temperatura é acentuada pela latitude, também pela continentalidade e, com isso, mesmo tendo uma baixa altitude, de dobramento ou montanha antiga, contribui para o frio no solstício de inverno e até para um fenômeno – bem raro no Brasil – como a neve.
A maritimidade significa a influência do clima nas localidades perto do litoral e na zona latitudinal intertropical litorânea, a amplitude térmica (diferença entre as máximas e mínimas temperaturas) é sempre menor que as localidades que estão mais para o interior do continente, que por isso sofrem da continentalidade, pois o mar serve como um atenuante climático, já que libera o calor que recebeu durante o dia, lentamente durante a noite. A região de clima equatorial, na Amazônia, apesar de estar no interior do continente, sofre desse atenuante climático de baixa amplitude da maritimidade, devido à quantidade de mananciais que possui em seu território.
Fonte da figura: Suporte dos estudantes.
As correntes marinhas que atuam na climatologia brasileira (correntes do Golfo e do Brasil) são quentes, contribuem para uma maior evaporação e, consequentemente, uma maior quantidade de chuvas no litoral, além de, indiretamente, também levar umidade mais para o interior do território.
Associadas aos fatores climáticos citados anteriormente, cinco são as massas de ar que influenciam o clima do Brasil. Estão explicadas abaixo e demonstradas nos mapas que seguem:
mEc – Massa Equatorial Continental – Nasce no Noroeste da Amazônia e é quente e úmida devido à floresta ombrófila e latifoliada, sua capacidade de evapotranspiração e seus mananciais perenes*. Atua durante todo o ano na Amazônia, com predomínio no inverno na Amazônia ocidental. Por ser uma massa quente e úmida, no verão, sua área de atuação é abrangida para quase todo o Brasil, levando grande quantidade de chuvas para as regiões Norte, Centro-Oeste, parte do Nordeste, Sudeste e Sul (influenciando nas chuvas de verão até Santa Catarina).
*Todas as massas equatoriais são úmidas, devido à grande capacidade de evaporação. Portanto, cabe a importante afirmação de que tem floresta porque chove e não o contrário. Compreenda que a condição climática determina o processo vegetal e no caso da Amazônia, a quantidade de evaporação dos mananciais existentes (rios e partes alagadas) associada à umidade do oceano trazida pela mEa é que torna a região bastante úmida de floresta densa. Enfim, a evapotranspiração das plantas contribui consideravelmente, mas não é o fator determinante para as chuvas desse local.
Por um corredor de vales leva grande umidade, contribuindo para as chuvas de verão da região Sudeste do Brasil ao se cruzar com outra massa quente e úmida vinda do Oceano Atlântico, a mTa – Massa Tropical Atlântica. Tais chuvas são intensas e associadas à ocupação irregular nas encostas dos centros urbanos causam catástrofes naturais como os desmoronamentos/escorregamentos acontecidos em Santa Catarina (dez. 2008), Rio de Janeiro (abr. 2010) e Região Serrana do RJ (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo – jan. 2011). No caso das catástrofes citadas, a massa de maior atuação para essas chuvas perto do litoral Sudeste é a mTa.
mEa – Massa Equatorial Atlântica – Massa quente e úmida que nasce no Atlântico Norte próximo ao arquipélago dos Açores, que estão 1.500 km a oeste da costa portuguesa. Forma os ventos alísios de Nordeste no Brasil (sopram do trópico de Câncer em direção ao Equador) e atinge o litoral do Norte e Nordeste do Brasil no equinócio de primavera e solstício de verão.
mTa – Massa Tropical Atlântica – Quente e úmida e se forma no Atlântico Sul próximo ao Trópico de Capricórnio. Atua durante todo o ano nos litorais das regiões Nordeste e Sudeste (chuvas de relevo ou orográficas na Serra do Mar). No Sul do Brasil predomina no verão, pois o frio e as chuvas de inverno são resultados da atuação da mPa (a atuação dessa massa no inverno do sul do Brasil é ínfima). Massa responsável pelo ventos alísios de Sudeste (sopram do trópico de Capricórnio para o Equador e atingem a costa SE e NE brasileira). No verão, tem seu centro de concentração na zona intertropical, em frente ao litoral Sul do Brasil e leva chuvas desde o litoral das regiões NE, SE e S ao interior da região Centro-Oeste (região do Distrito Federal) chegando a atingir o Pantanal matogrossense também levando umidade. No inverno desloca seu centro de concentração para a frente do litoral situado entre as regiões SE e NE do Brasil e provoca chuvas frontais nos litorais do NE e SE ao se cruzar com a mPa – Massa Polar Atlântica.
Atuação das massas de ar no verão da América do Sul. Nota-se a atuação restrita da fria mPa (que não atua no verão do Brasil), na América do Sul, e maior abrangência das massas quentes devido à incidência solar no Trópico de Capricórnio. Fonte da figura: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2004, p. 149.
mTc – Massa Tropical Continental – Quente e seca, forma-se na depressão do Chaco (prolongamento do Pantanal em territórios boliviano e paraguaio). Na primavera e no verão encontra-se com a mEc – Massa Equatorial Continental, contribuindo para precipitações no interior da região Centro-Oeste. No inverno contribui para a estação seca no oeste do Estado de Minas Gerais e na região Centro-Oeste até o Pantanal ao se cruzar com a mPa – Massa Polar Atlântica, que chega seca nessa região e traz as baixas temperaturas no outono-inverno. Ressalta-se que as tardes quentes e bastante secas dos meses de agosto e setembro no Centro-Oeste (destaque para o DF, que normalmente marca umidade relativa abaixo dos 30%) são resultados da intensa atuação da mTc na zona central do Brasil. A mTc também chega a influenciar nas altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar no sertão nordestino.
mPa – Massa Polar Atlântica – Nasce fria e úmida no Atlântico Sul nas imediações do litoral da Patagônia e chega ao Brasil fria e seca (só atua no nosso território no inverno e seu resto de umidade é precipitado na região Sul do Brasil). Sabendo-se que quanto mais uma massa de ar se desloca do seu centro de origem perde suas características originais, a mPa atua nas regiões Sul (ventos periódicos minuano e pampeiro) e Sudeste com mais intensidade e no inverno, pela incidência solar perpendicular estar no hemisfério norte tornando o sul mais frio, chega a atingir o litoral sul da Bahia (chega até a altura de Salvador bem fraca, pois vai se dissipando a medida que chega perto da zona equatorial), na região Nordeste, provocando chuvas frontais ao encontrar-se com a mTa – Massa Tropical Atlântica, que é quente e úmida. Outra vertente de penetração faz a mPa chegar ao vale do Tapajós na Amazônia provocando quedas de temperatura, no inverno, em um fenômeno chamado friagem.
Atuação das massas de ar no inverno da América do Sul. Maior atuação da mPa devido à menor incidência solar no hemisfério sul. Fonte da figura: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2004, p. 150.
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Furacão Catarina
Em todo o seu litoral, as correntes oceânicas que atuam no Brasil são quentes. Corrente do Brasil atuando do litoral do Nordeste em direção ao litoral Sul e Corrente do Golfo atuando do litoral do mesmo Nordeste para o litoral Norte do país. Na zona subtropical – altura do Estado de Santa Catarina – formou-se, em 2004, o furacão que recebeu o nome de Catarina, devido à circulação de baixa pressão do mar e alta pressão do ar influenciado pela mPa. Os furacões mais famosos e destruidores se formam no Golfo do México e ‘viajam’ em direção à costa sul norte-americana.
Imagem do Furacão Catarina captada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
A formação de furacões (sinônimo de tufões) se dá no oceano e para isso é necessária águas mais quentes que formam uma zona de baixa pressão em ventos circulares (sentido horário no hemisfério sul e anti-horário no hemisfério norte) que cruza com a circulação de ar de alta pressão (mais frio) aumentando a velocidade dos ventos, formando chuvas e tempestades e sendo atraído pelo continente, perdendo muito de sua força ao entrar em contato com a superfície terrestre. Enquanto furacões se formam nos oceanos, tornados se formam apenas nos continentes e a ocorrência mais frequente destes últimos no mundo é no centro dos Estados Unidos, devido à circulação de massas quentes (baixa pressão) vindas do Golfo do México e massas frias (alta pressão) vindas do norte dos EUA.
Climogramas do Brasil
Tendo por base a dinâmica das massas de ar, o cientista Arthur Strahler propôs uma classificação climática que estuda a dinâmica atmosférica através da circulação das massas de ar (climatologia dinâmica).
Veja o mapa que segue e alguns climogramas brasileiros e suas respectivas explicações.
Climogramas
Clima Equatorial
Fica nas proximidades da linha do Equador, abarcando a Amazônia, norte de Mato Grosso e oeste do Maranhão. Chove durante o ano todo, e em grande quantidade; é bastante úmido e a temperatura varia pouco no decorrer ao longo do ano, com média de 26º C. O climograma de Manaus (AM), localizada nessa faixa de clima, traz informações sobre a pluviosidade e a temperatura. Repare como, no gráfico, a quantidade de precipitação (representada pelas barras verticais) é bem alta, atingindo mais de 300 milímetros no mês de março, com apenas uma pequena queda no meio do ano (em julho, agosto e setembro), quando fica abaixo dos 100 milímetros. A pequena variação de temperatura, típica do clima equatorial, também pode ser vista no climograma de Manaus; a linha horizontal, formada pelas temperaturas médias de cada mês, quase não sobe nem desce, ficando em torno dos 26º C.
Clima Tropical, Tropical Típico, Tropical Semi-úmido ou ainda Tropical alternadamente úmido e seco
Predominante no território brasileiro, pega toda faixa do centro do país, leste do Maranhão, Piauí e oeste da Bahia e de Minas Gerais. Inverno e verão são estações bem marcadas pela diferença de pluviosidade: o verão é bastante chuvoso e há seca no inverno. No climograma de Goiânia (GO), conseguimos enxergar essa diferença pela variação na altura das barras de precipitação: em julho, a precipitação chega a quase zero, e em janeiro ultrapassa 250 milímetros. A temperatura no clima tropical é alta e não varia muito; a média fica entre 18º C em locais de serra e 28º C na maior parte do território.
Clima Tropical Semi-Árido
É o clima das zonas mais secas do interior do Nordeste. Caracteriza-se pela baixa umidade, pouca chuva e temperaturas elevadas. O climograma da cidade baiana de Juazeiro, na divisa com Pernambuco, representa graficamente essas características: nas barrinhas de precipitação, a mínima de chuva chega a 1,7 milímetro, em agosto, com a linha de temperatura variando entre cerca de 24,5º C e 28,5º C, médias térmicas elevadas. A chuva se concentra entre os meses de novembro e abril, mas o total anual de precipitação não chega a 550 milímetros – o volume é inferior ao atingido em apenas dois meses (fevereiro e março) no clima equatorial.
Clima Tropical de Altitude
É o clima das áreas com altitude acima de 800 metros em Minas Gerais, No Espírito Santo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os verões são quentes e chuvosos e os invernos, frios e secos. Isso pode ser visto no climograma acima, que mostra as médias de temperatura e pluviosidade de Belo Horizonte (MG). No inverno, as barras de chuva atingem o mínimo de cerca de 10 milímetros, e, no verão, passam de 300 milímetros. Em comparação ao clima tropical, o tropical de altitude tem o mesmo comportamento pluvimétrico, mas as médias anuais de temperatura são menores, ficando em torno dos 20º C – no inverno, as temperaturas são bem mais baixas.
Clima Tropical Atlântico ou Tropical Úmido
Esse clima cobre quase todo o litoral do país: começa no Rio Grande do Norte e vai até o Paraná. A quantidade de chuvas varia conforme a latitude da localidade. Por exemplo, enquanto no Nordeste chove muito no inverno, no Sudeste chove mais no verão, como pode ser visto no climograma de João Pessoa (PB) e no do Rio de Janeiro (RJ). A variação de temperatura é maior na porção mais ao sul do litoral. No Rio de Janeiro, oscila entre 21,5º C e 26,5º C e, em João Pessoa, entre 24º C e 28º C.
Clima Subtropical (no hemisfério Norte é chamado de Temperado)
É o clima das regiões ao sul do trópico de Capricórnio: sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A quantidade de chuva não varia muito durante o ano, mas as temperaturas mudam bastante: o inverno é frio e o verão, quente. No climograma de Curitiba (PR), por exemplo, a temperatura oscila entre 12,5º C e 20º C, enquanto as barras de precipitação apresentam pouca variação (a média anual é de 110 milímetros).
Fonte da parte de climogramas: Guia do Estudante: geografia. Mais que tropical. São Paulo: Abril, 2009, p. 48, 49.
Pra mim só faltou relacionar as massas de ar com os climogramas
nossa! isso e muito bom tem tudo que eu preciso para estudar para minha prova! isso também ajuda o meu conhecimento sobre as massas…..
gente esse daí é muito culto, a cultura do brasil aí é o que não falta…. ; D
Obrigado Lois!
parabenz meu querido professor, o site estava de uma qualidade esplendida
eu gosto muito de seus temas, principalmente pois estao condicionados na esfera globalizada
Obrigado, muito obrigado mesmo Caique!
Muito bom, professor! Obrigada.
Eu é que agradeço a visita Carolina!
isso cai no teste de sabado neh? ^^’
… 🙂